Suficientemente
repetida, a afirmação acaba por criar, primeiramente, uma opinião
e, mais tarde, uma crença.
A
repetição é o complemento necessário da afirmação. Repetir
muitas vezes uma palavra, uma ideia, uma fórmula, é transformá-las
fatalmente em crença. Do fundador da religião ao negociante, todos
os homens que procuram persuadir a outros têm empregado esse
processo.
O
seu poder é tal que se acaba por crer nas próprias palavras assim
repetidas e por aceitar as opiniões que habitualmente se exprime. Ao
Senado que lhe pedia adotasse medidas destinadas à defesa da
República, o grande Pompeu não cessava de repetir que César não
atacaria Roma e, nota Montesquieu, “porque ele tantas vezes o tinha
dito, ele dizia-o sempre”. A convicção formada no seu espírito
por essas repetições impediu-o de recorrer aos meios que lhe teriam
permitido proteger Roma e conservar a vida, ao menos durante algum
tempo.
A
história política está repleta de convicções formadas assim,
pela repetição. Antes de 1870, os nossos generais e os nossos
estadistas não cessavam de repetir que os exércitos alemães eram
muito inferiores aos nossos. À força de repeti-lo, nisso firmemente
acreditaram. Sabe-se o que nos custou essa convicção.
Tendo
adotado opiniões simplesmente porque lhes são úteis, o político,
à força de sustentá-las, acaba por nelas acreditar; e muito
dificilmente se liberta delas, mesmo quando se torna vantajoso
mudá-las. O hábito de louvar a virtude teria acabado, talvez, por
tornar virtuoso o próprio Tartufo.
As
convicções fortes podem, assim, provir de convicções fracas ou
mesmo, simplesmente, simuladas. “Fazei tudo como se acreditásseis”,
disse Pascal, “isso vos fará crer”.
Gustave
Le Bon, in As opiniões e as crenças
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