Quando
eu falo de pessoa a pessoa, quer dizer, da pessoa-autor que sou à
pessoa-leitor que o leitor é, tudo o que faço é depositar nele a
inquietação para definir as mudanças que ele imagine necessárias.
Porque não estou nada seguro de que estejamos, leitor e autor, de
acordo. Como eu disse, escrevo para compreender, e desejaria que o
leitor fizesse o mesmo, quer dizer, que lesse para compreender.
Compreender o quê? Não para compreender na linha em que eu estou
tentando fazer. Ele tem os seus próprios motivos e razões para
compreender algo, mas esse algo ele é que determina. O que não
quero é que fique na superfície da página. Quando alguém está em
uma leitura e levanta o olhar como se estivesse a aprender com muito
mais intensidade o que acaba de ler, é o momento em que esse alguém
está totalmente envolvido, como se pensasse: “Isto é meu, isto
tem que ver comigo”. Tira-se da leitura o que se necessita.
José
Saramago, in As
palavras de Saramago
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