Não
sei quem fez esta observação sagaz: “Nós somos um povo muito
volúvel.” Grande verdade, que não passaria despercebida ao
espírito arguto do conselheiro Acácio.
Dizem
aqui que houve um poeta muito amado por toda a gente que faz versos e
amarra ao pescoço bonitas gravatas. Era um ídolo, mais que um ídolo
— um figurino. Imitavam-lhe o formato dos metros e o feitio da
roupa.
(Há
alguém que se queixe da falta da originalidade que nos leva a seguir
cegamente pegadas de algum mestre. Tolice! É muito mais cômodo
percorrer os caminhos que os outros vão abrindo do que meter-se uma
pessoa por veredas escusas e intrincadas.)
Pois
o nosso homem era uma espécie de pontífice de todos os indivíduos
que deitavam olhos cobiçosos às musas do Rio antigo.
Um
dia — dia fatal! — o poeta teve de fazer uma longa viagem. Viagem
funesta! Voltou anos depois. Trazia versos. Mas parece que seus
adoradores notaram que lhe não ficava bem o laço da gravata... Foi
uma grande apostasia — todos os devotos passaram a queimar incenso
nos altares de outros deuses.
E
o figurino das letras exilou-se, pensando talvez na ingratidão
daqueles gregos que decretaram o ostracismo de Aristides.
Graciliano
Ramos, in Garranchos
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