O
gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol é cada vez
menos frequente na vida moderna.
Há
meio século, era raro que uma partida terminasse sem gols: 0 a 0,
duas bocas abertas, dois bocejos. Agora, os onze jogadores passam
toda a partida pendurados na trave, dedicados a evitar os gols e sem
tempo para fazer nenhum.
O
entusiasmo que se desencadeia cada vez que a bola sacode a rede pode
parecer mistério ou loucura, mas é preciso levar em conta que o
milagre é raro. O gol, mesmo que seja um golzinho, é sempre
goooooooooooooool na garganta dos locutores de rádio, um dó de
peito capaz de deixar Caruso mudo para sempre, e a multidão delira e
o estádio se esquece que é de cimento, se solta da terra e vai para
o espaço.
Eduardo
Galeano, in Futebol ao sol e à sombra
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