Ainda
há casamentos secretos, como no tempo de Cimarosa. Mas sem música.
A vantagem deste tipo de união é que, permanecendo oculto, não
sofre o desgaste da vida social e conserva o toque de mistério e
poesia que frequentemente falta aos casamentos comuns.
Jurandir
sentiu-se tão bem em seu matrimônio secreto com a filha de um
banqueiro (cada um vivia na sua casa, e encontravam-se em ambiente
secretíssimo) que nem se sentia casado. Esquecendo-se do vínculo,
ele prevaricava sem maldade. O mesmo acontecia com Andreia. Até que
os dois se viram cara a cara num motel, a que haviam acorrido em
consequência de anúncios classificados, dele e dela, em busca de
fantasia.
Jurandir
e Andreia fitaram-se por um momento, como se não se conhecessem.
Afinal se lembraram.
— Mas
eu sou casado com você, querida. Não podemos ter uma aventura
juntos.
— É
mesmo, amor. Também sou casada com você. É totalmente impossível
nos desligarmos desta verdade.
— Quem
sabe?… — ponderou Jurandir. — A gente pode se esquecer, como
habitualmente.
— Então
tá — e naquela tarde viveram a situação nova.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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