domingo, 29 de outubro de 2017

A colheita é comum, mas o capinar é sozinho...

As vezes eu penso! seria o caso de pessoas de fé e posição se reunirem, em algum apropriado lugar, no meio dos gerais, para se viver só em altas rezas, fortíssimas, louvando a Deus e pedindo glória do perdão do mundo. Todos vinham comparecendo, lá se levantava enorme igreja, não havia mais crimes, nem ambição, e todo sofrimento se espraiava em Deus, dado logo, até à hora de cada uma morte cantar. Raciocinei isso com compadre meu Quelemém, e ele duvidou com a cabeça! ― Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho... ― ciente me respondeu.
Compadre meu Quelemém é um homem fora de projetos. O senhor vá lá, na Jijujã.Vai agora, mês de junho. A estrela-dalva sai às três horas, madrugada boa gelada. E tempo da cana. Senhor vê, no escuro, um quebra-peito ― e é ele mesmo, já risonho e suado, engenhando o seu moer. O senhor bebe uma cuia de garapa e dá a ele lembranças minhas. Homem de mansa lei, coração tão branco e grosso de bom, que mesmo pessoa muito alegre ou muito triste gosta de poder conversar com ele.
Guimarães Rosa, in Grande sertão: veredas

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