As
vezes eu penso! seria o caso de pessoas de fé e posição se
reunirem, em algum apropriado lugar, no meio dos gerais, para se
viver só em altas rezas, fortíssimas, louvando a Deus e pedindo
glória do perdão do mundo. Todos vinham comparecendo, lá se
levantava enorme igreja, não havia mais crimes, nem ambição, e
todo sofrimento se espraiava em Deus, dado logo, até à hora de cada
uma morte cantar. Raciocinei isso com compadre meu Quelemém, e ele
duvidou com a cabeça! ― Riobaldo, a colheita é comum, mas o
capinar é sozinho... ― ciente me respondeu.
Compadre
meu Quelemém é um homem fora de projetos. O senhor vá lá, na
Jijujã.Vai agora, mês de junho. A estrela-dalva sai às três
horas, madrugada boa gelada. E tempo da cana. Senhor vê, no escuro,
um quebra-peito ― e é ele mesmo, já risonho e suado, engenhando o
seu moer. O senhor bebe uma cuia de garapa e dá a ele lembranças
minhas. Homem de mansa lei, coração tão branco e grosso de bom,
que mesmo pessoa muito alegre ou muito triste gosta de poder
conversar com ele.
Guimarães
Rosa, in Grande sertão: veredas
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