quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Trinta anos de espera

Esperei trinta anos pelo seu regresso, Susana. Esperei até eu ter tudo. Não somente alguma coisa, mas tudo que se pudesse conseguir de maneira que não nos sobrasse nenhum desejo, só o seu, o desejo por você. Quantas vezes convidei seu pai para tornar a morar aqui, dizendo que precisava dele? Fiz isso até com mentiras.
Ofereci nomeá-lo administrador, com tal de tomar a ver você. E o que foi que ele me respondeu? ‘Não tem resposta’ me dizia sempre o leva-e-traz recados. ‘O senhor dom Bartolomé rasga as suas cartas, assim que eu as entrego.’ Mas pelo leva-e-traz fiquei sabendo que você tinha casado e logo fiquei sabendo que você tinha ficado viúva e estava outra vez fazendo companhia ao seu pai.
Depois, o silêncio.
O leva-e-traz ia e vinha e sempre voltava me dizendo:
“— Não os encontro, dom Pedro. Disseram para mim que saíram de Mascote. E uns me dizem que para cá, e outros, que para lá.
E eu:
“— Não repare em gastos, vá atrás deles, procure. Nem que a terra tenha engolido os dois.
Até que um dia veio e me disse:
“— Vasculhei a serra inteira indagando qual o canto em que dom Bartolomé San Juan se esconde, até que dei com ele, lá, perdido num buraco nas montanhas, vivendo numa cova feita de troncos, no mesmo lugar onde estão as minas abandonadas da La Andromeda.
Já naquela época sopravam ventos raros. Dizia-se por aí que havia gente rebelada e com armas. Os rumores nos chegavam. Foi isso que trouxe o seu pai por aqui. Não por ele, segundo me disse em sua carta, e sim pela sua segurança, queria trazer você de volta à vida entre os vivos.
Senti que o céu se abria. Tive vontade de correr até você. De rodear você de alegria. De chorar. E chorei, Susana, quando soube que você enfim iria voltar.”
Juan Rulfo, in Pedro Páramo

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