quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Juan López e John Ward

A sorte lhes reservou uma época estranha.
O planeta havia sido parcelado em distintos países, cada um provido de lealdades, de queridas memórias, de um passado sem dúvida heroico, de direitos, de agravos, de uma mitologia peculiar, de próceres de bronze, de aniversários, de demagogos e de símbolos. Essa divisão, cara aos cartógrafos, auspiciava as guerras.
López havia nascido na cidade junto ao rio imóvel; Ward, nos arredores da cidade por onde caminhou Father Brown. Havia estudado castelhano para ler o Quixote.
O outro professava o amor de Conrad, que lhe havia sido revelado em uma sala de aula da rua Viamonte.
Teriam sido amigos, mas viram-se uma só vez cara a cara, em umas ilhas demasiado famosas, e cada um dos dois foi Caim e cada um, Abel.
Foram enterrados juntos. A neve e a corrupção os conhecem.
O fato a que me refiro aconteceu em um tempo que não podemos entender.
Jorge Luis Borges, in Os conjurados

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