segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A longa busca

Anterior ao tempo ou fora do tempo (ambas locuções são vãs) ou em um lugar que não é do espaço, há um animal invisível, por acaso diáfano, que os homens buscam e que nos busca. Sabemos que não pode ser medido.
Sabemos que não pode ser contado, porque as formas que o somam são infinitas.
Há quem o tenha buscado em um pássaro, que está leito de pássaros; há quem o tenha buscado em uma palavra ou nas letras dessa palavra; há quem o tenha buscado, e o busca, em um livro anterior ao árabe em que foi escrito, e ainda a todas as coisas; há quem o busque na frase Sou O Que Sou.
Como as formas universais da escolástica ou os arquétipos de Whitehead, costuma baixar fugazmente. Dizem que habita os espelhos, e que quem se olha O olha. Há quem o veja ou entreveja na bela memória de uma batalha ou em cada paraíso perdido.
Conjectura-se que seu sangue bate em teu sangue, que todos os seres o engendram e foram engendrados por ele e que basta inverter uma clepsidra para medir sua eternidade.
Espreita nos crepúsculos de Turner, no olhar de uma mulher, na antiga cadência do hexâmetro, na ignorante aurora, na lua do horizonte ou da metáfora.
Nos elude de segundo em segundo. A sentença do romano se gasta, as noites roem o mármore.
Jorge Luis Borges, in Os conjurados

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