O
poeta tem um chapéu,
um
cinto de couro,
uma
camisa de malha.
O
poeta é um homem comum.
Mas,
quando diz:
a
tarde não podia tanger
com
“os bandolins e suas doces nádegas”,
eu
me prostro invocando:
me
explica, ó decifrador, o mistério da vida,
me
ama, homem incomum.
No
oeste de Minas tem um canavial,
onde
as folhas se roçam ásperas,
ásperas
as folhas da cana-doce roçam-se.
Como
agulhas bicando em vidro liso,
o
pio das andorinhas dentro da igreja deserta.
Os
trinados e as folhas cortam,
entre
as canas é doce, doce e fresco,
entre
os bancos da igreja.
Repouso
lá e cá,
um
poder em círculos me dilata,
eu
danço na mão de Deus.
Na
hora do encantamento,
o
reverso do verso dá sua luz:
“os
bandolins e suas doces nádegas”,
um
mistério santíssimo e inteligível.
Adélia
Prado
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