Foto: Leandro Sanches
Corre,
ofegando, pela lateral. De um lado o esperam os céus da glória; do
outro, os abismos da ruína.
O
bairro tem inveja dele: o jogador profissional salvou-se da fábrica
ou do escritório, tem quem pague para que ele se divirta, ganhou na
loteria. Embora tenha que suar como um regador, sem direito a se
cansar nem a se enganar, aparece nos jornais e na televisão, as
rádios falam seu nome, as mulheres suspiram por ele e os meninos
querem imitá-lo. Mas ele, que tinha começado jogando pelo prazer de
jogar, nas ruas de terra dos subúrbios, agora joga nos estádios
pelo dever de trabalhar e tem a obrigação de ganhar ou ganhar.
Os
empresários podem comprá-lo, vendê-lo, emprestá-lo; e ele se
deixa levar pela promessa de mais fama e mais dinheiro. Quanto mais
sucesso faz, e mais dinheiro ganha, mais está preso. Submetido a uma
disciplina militar, sofre todo dia o castigo dos treinamentos ferozes
e se submete aos bombardeios de analgésicos e às infiltrações de
cortisona que esquecem a dor e enganam a saúde. Na véspera das
partidas importantes, fica preso num campo de concentração onde faz
trabalhos forçados, come comidas sem graça, se embebeda com água e
dorme sozinho.
Nas
outras profissões humanas, o ocaso chega com a velhice, mas o
jogador de futebol pode ser velho aos trinta anos. Os músculos se
cansam cedo:
– Esse
cara não faz um gol nem ladeira abaixo.
– Esse
aí? Nem se amarrarem as mãos do goleiro.
Ou
antes dos trinta, se uma bolada fizer que desmaie de mau jeito, ou o
azar lhe estourar um músculo, ou um pontapé lhe quebrar um desses
ossos que não têm conserto. E um belo dia o jogador descobre que
jogou a vida numa só cartada e que o dinheiro evaporou-se, e a fama
também. A fama, senhora fugaz, não costuma deixar nem uma cartinha
de consolo.
Eduardo
Galeano, in Futebol ao sol e à sombra
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