— Está
me ouvindo? — perguntei em voz baixa.
E
sua voz me respondeu:
— Onde
você está?
— Estou
aqui, no seu povoado. Com a sua gente. Não está me vendo?
— Não,
filho, não vejo você. Sua voz parecia cobrir tudo. Perdia-se mais
além da terra.
— Não
vejo você.
Regressei
ao pedaço de teto onde aquela mulher dormia e disse a ela:
— Vou
ficar aqui, no meu mesmo canto. Afinal, a cama está tão dura como o
chão. Se precisar de alguma coisa, me avise.
Ela
me disse:
— Donis
não vai voltar. Vi em seus olhos. Estava esperando alguém chegar
para ir embora. Agora você é que vai cuidar de mim. Ou não quer
cuidar de mim? Venha dormir aqui comigo.
— Estou
bem aqui.
— É
melhor você subir na cama. Aí, vai ser comido pelos carrapatos.
Então fui e me deitei com ela.
O
calor me fez acordar por volta da meia-noite. E o suor. O corpo
daquela mulher, feito de terra, envolvido em crostas de terra, se
desfazia como se estivesse derretendo num charco de lodo. Eu me
sentia nadar no meio do suor que jorrava dela e me faltou o ar que se
necessita para respirar. Então me levantei. A mulher dormia. De sua
boca borbotava um ruído de borbulhas muito parecido ao estertor.
Saí
à rua; mas o calor que me perseguia não desgrudava de mim.
E
é que não havia ar; só a noite entorpecida e quieta, acalorada
pelas altas temperaturas de agosto.
Não
havia ar. Tive de sorver o mesmo ar que saía da minha boca,
parando-o com as mãos antes que ele fosse embora. Sentia o ar indo e
vindo, cada vez menos; até que se fez tão fino que se filtrou entre
meus dedos para sempre.
Digo
para sempre.
Tenho
memória de haver visto algo assim como nuvens espumosas fazendo
redemoinhos sobre a minha cabeça e depois enxaguar-me com aquela
espuma e me perder em sua nuvarada. Foi a última coisa que vi.
Juan
Rulfo, in Pedro Páramo
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