Um
acúmulo de pó formou-se no fundo da prateleira, de trás da fila de
livros. Meus olhos não o veem. É uma teia de aranha para meu tato.
É
uma parte ínfima da trama que chamamos a história uni versa ou o
processo cósmico. É parte da trama que abarca es trelas agonias,
migrações, navegações, luas, vaga-lumes, vigílias, naipes,
bigornas, Cartago e Shakespeare.
Também
são parte da trama esta página, que não acaba de ser um poema, e o
sonho que sonhaste ao amanhecer e que já esqueceste. Há um fim da
trama? Schopenhauer a acreditava tão insensata como os rostos ou os
leões que vemos na configuração de uma nuvem.
Há
um fim da trama? Esse fim não pode ser ético, já que a ética é
uma ilusão dos homens, não das inescrutáveis divindades.
Talvez
o acúmulo de pó não seja menos útil para a trama do que as naves
que carregam um império ou a fragrância do nardo.
Jorge
Luis Borges, in Os conjurados
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