Alta,
muito alta, e branca, muito branca, de olhos verdes... Sonhei ter
visto uma jovem assim? Terei sonhado ou sonhei que sonhava; não sei;
essa moça devia ser irmã da árvore, que vi a vez primeira em noite
de luar, erguendo para a noite azul os seus galhos unânimes. Mas de
manhã, quando abri a janela, e o sol nascia sobre a Cordilheira, é
que ela esplendeu em toda sua beleza.
Em
muitos caminhos da Europa e do sul do Brasil vi essa árvore; é um
álamo, e foram os álamos que inventaram todas as alamedas deste
mundo. Em minha rua santiaguina também há muitos; mas o mais alto
de todos, o mais forte em viço, em beleza, está junto à calçada,
no meu jardim.
Sou
um homem confuso e distraído; minha rua chamase Roberto Del Río e
na primeira madrugada, quando voltava para casa, disse ao chofer que
morava em Roberto Del Mar. O velho chileno riu muito dentro de seu
casaco escuro, atrás de seus bigodes brancos; mas quando chegamos à
rua e ele me perguntou o número da casa não precisei puxar meu
caderno de endereços para responder; apontei a mais de cem metros o
meu álamo real.
Nenhuma
árvore se lança com tanta veemência para o alto; lança-se o
enorme tronco muito branco, lançam-se todos os galhos cobertos de
folhas, num impulso de chama verde, vinte jatos de seiva partindo
todos para cima, ao longo da mesma reta vertical.
Há
um pinheiro estático e extático, há grandes salsochorões
derramados para o chão, e a graça menina de uma cerejeira cor de
vinho, que o sol oblíquo acende e faz fulgurar; mas o álamo junto
do portão tem um vigor e uma pureza que me fazem bem pela manhã,
como se toda manhã, ao abrir a janela, eu visse uma jovem imensa,
muito clara, de olhos verdes, de pé, sorrindo para mim.
Rubem
Braga, in Ai de ti, Copacabana
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