segunda-feira, 12 de junho de 2017

A tribo da sensibilidade

Todos os anos exterminamos comunidades indígenas, milhares de hectares de bosques e até inúmeras palavras de nossos idiomas. Cada minuto extinguimos uma espécie de ave e alguém em algum lugar remoto contempla pela última vez na Terra uma determinada flor. Konrad Lorenz não se enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma espécie que gira sem achar seu horizonte, um projeto inconcluso. Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a única coisa que nos distancia na realidade dos animais é nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura da devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela inumanidade do poder econômico. Sempre me pareceu incrível que uma sociedade tão pragmática quanto a ocidental tenha deificado coisas abstratas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens efêmeras. Devemos fortalecer, como tantas vezes eu disse, a tribo da sensibilidade.”
José Saramago, in As palavras de Saramago

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