“Contemplando
uma cascata, acreditamos ver nas inúmeras ondulações,
serpenteares, quebras de ondas, liberdade da vontade e capricho; mas
tudo é necessidade, cada movimento pode ser calculado
matematicamente. O mesmo acontece com as ações humanas; poder-se-ia
calcular antecipadamente cada ação, caso se fosse onisciente, e,
da mesma maneira, cada progresso do conhecimento, cada erro, cada
maldade. O homem, agindo ele próprio, tem a ilusão, é verdade, do
livre-arbítrio; se por um instante a roda do mundo parasse e
houvesse uma inteligência calculadora onisciente para aproveitar
essa pausa, ela poderia continuar a calcular o futuro de cada ser até
aos tempos mais distantes e marcar cada rastro por onde essa roda a
partir de então passaria. A ilusão sobre si mesmo do homem atuante,
a convicção do seu livre-arbítrio, pertence igualmente a esse
mecanismo, que é objeto de cálculo.”
Friedrich
Nietzsche, in
Humano, demasiado humano
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