Na
República do Espicha-Encolhe cogitava-se de organizar partidos
políticos por meio de cores.
Uns
optaram pelo partido rosa, outros pelo azul, houve quem preferisse o
amarelo, mas vermelho não podia ser. Também era permitido escolher
o roxo, o preto com bolinhas e finalmente o branco.
— Este
é o melhor — proclamaram uns tantos. — Sendo resumo de todas as
cores, é cor sem cor, e a gente fica mais à vontade.
Alguns
hesitavam. Se houvesse o duas-cores, hem? Furta-cor também não
seria mau. Idem, o arco-íris. Havia arrependidos de uma cor, que
procuravam passar para outra. E os que negociavam: só adotariam uma
cor se recebessem antes cem metros de tecido da mesma cor, que não
desbotasse nunca.
—
Justamente o ideal é a cor que desbota —
sentenciou aquele ali. — Quando o governo vai chegando ao fim, a
fazenda empalidece, e pode-se pintá-la da cor do sol nascente.
Este
sábio foi eleito por unanimidade presidente do Partido de Qualquer
Cor.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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