Cada
dia é preciso escrever sobre uma coisa nova — mas novidades, as
últimas, só as há nas vitrinas de butiques, nos catálogos de
acessórios domésticos, nos belíssimos e caros anúncios de
medicamentos caros.
Estas
é que importam, fascinam, dão água na boca — quem é que não
deseja ser saudável como os ginastas das estátuas gregas ou, se
mulher, ter o porte e o charme dos manequins de moda? Mas, por azar,
o que mais interessa só pode ser sob prescrição médica...
O
resto, quase o que só se lê, são ninharias: sequestros, estupros,
assaltos e outras coisas que ficam além do alcance do vulgo. Resta a
política, mas agora em mãos de especialistas, de modo que a gente
fica igualmente por fora.
Parece
que diante de tudo isso a única solução é fabricar fogos de
artifício, girândolas, busca-pés e traques, na falta de outras
coisas menos líricas.
Mas
os cartolas dirão que não é tempo de lirismos. Ouçamos, pois, o
que digressionam eles sobre assuntos econômicos. Isto, sim, é que
toca a todos nós nestes tempos bicudos. Como?! Não entendeste nada?
E alegas que é porque eles falam economês? Nada disto, meu santo.
Eles acabam de expressar-se no mais puro chinês!
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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