Ilustração de Ricardo D'agostini
Rosa
não foi apenas escritor. Enquanto médico e diplomata, ele visitou,
e tardiamente, a literatura mas nela não fixou residência exclusiva
e permanente. Ao ler Rosa percebe-se que, para se chegar àquela
relação de intimidade com a escrita, é preciso ser-se escritor e
muito escritor. Mas por um tempo é preciso ser-se um não-escritor.
É
preciso estar livre para mergulhar no lado da não-escrita, é
preciso capturar a lógica da oralidade, é preciso escapar da
racionalidade dos códigos da escrita enquanto sistema de pensamento.
Esse é o desafio de desequilibrista — ter um pé em cada um dos
mundos: o da escrita e o da oralidade. Não se trata de visitar o
mundo da oralidade. Trata-se de deixar-se invadir e dissolver pelo
universo das falas, das lendas, dos provérbios.
Mia
Couto, in Encontros e encantos – Guimarães Rosa
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