“A
exata glória é a póstuma, a que nenhum dente rói, e que só desce
sobre um nome depois da ressurreição intemporal do seu possuidor.
Todos sabemos que a imortalidade do poeta lhe nasce das cinzas. Mas o
artista enquanto vive é homem. Rege-o tanto uma lei de cima como uma
lei de baixo. E por isso, pela transitória fama entre meia dúzia de
condicionados contemporâneos, é capaz de matar um irmão. Velhos e
novos prestam nesta triste luta as mesmas armas e as mesmas unhas.
Os velhos querem guardar os louros; os novos querem tirar-lhos das
mãos. E sem haver a mais pequena esperança de paz entre as duas
forças. É da própria natureza dos contendores que nenhum ceda. A
sofreguidão é tanto da fisiologia senil, como da infantil…”
Miguel
Torga, in
Diário (1943)
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