Vêm
os três, em fila, pela trilha esticada à margem da rodovia. A
escuridão dissolve seus corpos, entrevistos na escassa luz dos
faróis dos caminhões, dos ônibus e dos carros que adivinha a
madrugada. Caminham, o mato alto e seco roça as pernas de suas
calças.
São
pai e filho e um rapaz, conhecido-de-vista, que, encorajado, Pode
sim. Tem dez anos que vou a pé. É uma economia danada no fim do
mês, resolveu acompanhá-los.
O
homem dirige empilhadeira numa transportadora no Limão.
O
menino tem dez-onze anos, embora, franzino, aparente bem menos.
Agora, largou a escola, vende cachorro-quente — com molho de tomate
ou de maionese — e Coca-Cola em frente à firma onde o pai
trabalha. À noite, guarda o carrinho no pátio da empresa, os vigias
tomam conta. Quando crescer, perder-se Brasil afora, sonha,
caminhoneiro.
O
rapaz, desempregado, aceita qualquer empreitada, O negócio tá
feio!
O
menino vai à frente, o homem no meio, o rapaz atrás.
— Esse
aí ó, vale ouro, diz, orgulhoso, o pai, tentando adivinhar a feição
do companheiro que ofega asmático às suas costas, pés farejadores.
É de uma inteligência! Quer ver?
Vira-se,
mira o letreiro do ônibus que passa velozmente, “Garanhuns”,
fala.
—
Pernambuco, o menino replica,
automaticamente.
O
rapaz desdenha, “É isso?”
— Ele
sabe onde ficam todas as cidades do Brasil, o pai argumenta. Tem um
mapa na cabeça, o peste.
—
Todas?
—
Todas!
O
conhecido-de-vista então para, vira-se, mira o letreiro do ônibus
que passa velozmente, Merda!, não consegue ler, Muito
rápido... Merda!
“Alagoinhas”,
Essa, esse não acerta.
—
Bahia, o menino responde, displicente.
— É
Bahia?, o pai indaga, pressuroso.
— É,
o rapaz acede, contrariado.
Sem
olhar para trás, aguarda outro ônibus que passa velozmente,
“Itaberaba”, nome da cidade da mulher, agora não é…,
“Bahia, também”, O reliento acertou! Desgramado!”.
— Num
falei?
— Onde
é que esse raio aprendeu essas coisas?
— Sei
não...
— Ele
não é de falar não, né? Ô menino! Ô!
— É...
Ele é mei caladão... Asselvajado...
Envaidecido,
vira-se, mira o letreiro do ônibus que passa velozmente, “Governador
Valadares”.
— Minas
Gerais.
—
Impressionante!, o rapaz conforma-se.
Caminham,
o mato alto e seco pinica seus braços.
— Já
pensou levar ele na televisão?
— Heim?
— É...
naqueles programas que as pessoas vão responder as coisas...
—
Televisão?
Televisão...
— Dá
dinheiro, né?
— Ô,
se!
O
homem busca o filho que marcha à frente escondido dentro de uma
jaqueta puída, dois números acima do seu tamanho.
Os
ônibus os caminhões os carros as luzes São Paulo
Televisão…
Luiz
Rufatto, in
Eles eram muitos cavalos
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