Acordo
de noite subitamente,
E
o meu relógio ocupa a noite toda.
Não
sinto a Natureza lá fora.
O
meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.
Lá
fora há um sossego como se nada existisse.
Só
o relógio prossegue o seu ruído.
E
esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa
toda a existência da terra e do céu...
Quase
que me perco a pensar o que isto significa,
Mas
estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque
a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
Enchendo
com a sua pequenez a noite enorme
É
a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com
a sua pequenez…
Alberto
Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)
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