Tava
de bobeira comendo um x-salada e um maluco cola na minha mesa: “paga
um lanche aí, irmão.” Rosto todo fodido. Cabelo caindo. Zoadão.
Aí puxei 3 contos do bolso e pedi um salgado e um suco pra ele. Ele
disse que era missionário. Que rodou a África pregando a palavra de
Deus e tal. E que traiu a mulher com uma feiticeira no Congo. E que
essa feiticeira fez um trabalho intitulado “sete pragas do amante
ingrato”. E que ainda estava pagando a segunda praga. A primeira
fez com que ele andasse feito cachorro por seis meses. “Eu latia e
mijava como vira-lata em postes. Meus joelhos ficavam todo tempo em
carne viva”. Aí ele apontou pra boca e disse assim: “A terceira
praga é a dos gafanhotos. Vai sair gafanhotos da minha boca quando
eu usar o nome de deus em vão”. Dei minha última dentada no
sanduba e disse “melhoras, bicho. Que o senhor tenha misericórdia
da tua alma. Que sare tuas feridas”. Atravessei a rua. Entrei no
ônibus e vi uma nuvem de gafanhotos em cima do telhado da
lanchonete.
Diego
Moraes,
in ursocongelado.tumblr.com
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