sábado, 1 de outubro de 2016

Pragas do Egito

Tava de bobeira comendo um x-salada e um maluco cola na minha mesa: “paga um lanche aí, irmão.” Rosto todo fodido. Cabelo caindo. Zoadão. Aí puxei 3 contos do bolso e pedi um salgado e um suco pra ele. Ele disse que era missionário. Que rodou a África pregando a palavra de Deus e tal. E que traiu a mulher com uma feiticeira no Congo. E que essa feiticeira fez um trabalho intitulado “sete pragas do amante ingrato”. E que ainda estava pagando a segunda praga. A primeira fez com que ele andasse feito cachorro por seis meses. “Eu latia e mijava como vira-lata em postes. Meus joelhos ficavam todo tempo em carne viva”. Aí ele apontou pra boca e disse assim: “A terceira praga é a dos gafanhotos. Vai sair gafanhotos da minha boca quando eu usar o nome de deus em vão”. Dei minha última dentada no sanduba e disse “melhoras, bicho. Que o senhor tenha misericórdia da tua alma. Que sare tuas feridas”. Atravessei a rua. Entrei no ônibus e vi uma nuvem de gafanhotos em cima do telhado da lanchonete.
Diego Moraes, in ursocongelado.tumblr.com

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