Às
vezes levanto de madrugada, com sede,
flocos
de sonho pegados na minha roupa,
vou
olhar os meninos nas suas camas.
O
que nessas horas mais sei é: morre-se.
Incomoda-me
não ter inventado este dizer lindíssimo:
‘Ao
amiudar dos galos.’ Os meninos ressonam.
Com
nitidez perfeita, os fragmentos:
as
mãos do morto cruzadas, a pequena ferida no dorso.
A
menina que durante o dia desejou um vestido
está
dormindo esquecida e isto é triste demais,
porque
ela falou comigo: ‘Acho que fica melhor com babado’
e
riu meio sorriso, embaraçada por tamanha alegria.
Como
é possível que a nós, mortais, se aumente o brilho nos olhos
porque
o vestido é azul e tem um laço?
Eu
bebo a água e é uma água amarga
e
acho o sexo frágil, mesmo o sexo do homem.
Adélia
Prado
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