São Jorge e o Dragão (1606), de P. P. Rubens
São
Jorge, o cavalo, o dragão... eu sempre fui, já não digo um devoto,
mas um fã dos três. São Jorge, eu soube, foi cassado. E verdade
que andava metido em tudo o que era religião... Mas que culpa tinha
ele de ser bonito e ecumênico? Porém, ao passo que São Jorge era
dessantificado, ressuscitava-se o Diabo, retirando-o do domínio do
folclore a que o relegara o povo. Mas e o dragão? O dragão não
representava o mal, isto é, o Diabo? Alega-se que São Jorge nunca
existiu. Ora, naquela imagem que, de tanto a vermos desde a infância,
fazia parte da nossa sensibilidade, o dragão era também uma figura
simbólica. Porém existe... Naquela bela imagem, pois, resta-nos
agora o cavalo e o dragão. Luta desigual. Foi-se o cavaleiro andante
do Bem.
E
como que nos ficou faltando um estímulo, um exemplo, uma esperança.
O
que nos faz lembrar aquele Outro cavaleiro andante, Dom Quixote —
outro símbolo. Que nunca existiu, é claro. Mas como vive!
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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