O
extraordinário professor de línguas passeando pelo Brasil punha
sempre ouvidos à maneira de falar dos nativos, fossem professores,
como ele próprio, ou gente simples do povo.
E
o professor ficou fascinado com uma palavra que ouvia a todo momento
- absurdo. E, daí em diante, sempre que podia, a toda hora dizia,
absurdo! absurdo!, absurdo! E sorria deliciosa satisfação
intelectual semântica.
Pois
não é que um dia, atravessando a baía da Guanabara a passeio em
direção a Paquetá, o professor achou a paisagem um absurdo de
bonita e, que horror!, não lembrou a palavra?
Tentou,
levantou-se, andou até a popa do barco, depois até a proa,
procurando no mais fundo da memória, mas a palavra não veio. E
estava ali, de cabeça baixa, andando pra lá e pra cá, sem nem mais
olhar a paisagem, quando um taifeiro lhe perguntou: “Que foi,
cavalheiro, está sentindo alguma coisa?” “Não, nada, estou só
aborrecido. Perdi uma palavra.” “Uma palavra? Estava escrita num
papel?” “Não. Não estava escrita em lugar nenhum. Só na minha
cabeça.” “Perdeu uma palavra que estava na sua cabeça? Perdão,
senhor, mas é um absurdo!” “É isso! Encontrou! Obrigado, meu
amigo, obrigado”.
MORAL:
A CULTURA ESTÁ EM TODA PARTE.
Millôr
Fernandes, in
Fábulas fabulosas
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