segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Um professor de espantos

Samuel Lago é um homem risonho, afável, apaixonado pela educação. Escreve deliciosamente. Recebi dele um livrinho, livrinho mesmo, 7 centímetros de largura por 10 de comprimento, cheio de aforismos sobre a educação. Muitos grandes pensadores se deliciavam com os aforismos. Lembro-me de Lichtenberg, que Nietzsche e Murilo Mendes muito amavam, Nietzsche, Oscar Wilde. Um aforismo é um relâmpago: brevíssimo, ilumina os céus. Por vezes racha rochas. Muitos cérebros são rochas. Aqui vão alguns canapezinhos. “A verdadeira dificuldade não está em aceitar ideias novas, mas em escapar das ideias antigas” (Keynes). “Sábio é aquele que se espanta com tudo” (André Gide). “Todos os jogos são educativos, menos os jogos educativos” (André Lapierre). “Pensa como pensam os sábios, mas fala como falam as pessoas simples” (Aristóteles). “Tudo que se ensina à criança a impede de inventar ou de descobrir” (Piaget). O aforismo de André Gide, em especial, me deixou feliz. Porque eu já fiz a sugestão (minhas sugestões, usualmente, não são levadas a sério. Aqueles que as leem acham que estou brincando, fazendo gozação. Tudo o que é diferente espanta!)... eu já fiz a sugestão de que se criasse um novo tipo de professor: professor de espantos. Mas... todo professor não deveria ser um professor de espantos?
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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