Para
escrever, preciso isolar-me, recolher-me, concentrar-me somente no
que estou escrevendo. Ou faço assim, ou a inspiração não vem.
Aliás, sempre que ela me visita, encontra-me trabalhando.
Tenho
as aulas, as viagens, as palestras, as feiras de livros. E não
adianta. Até consigo escrever um conto ou outro em fins de semana,
mas para escrever novelas e romances eu preciso de tempo ocioso,
preciso não fazer nada, vagabundear, alterar os horários de
dormir e levantar, almoçar e jantar.
Preciso,
enfim, do que chamo de caos criativo.
Mas
os conhecidos e os desconhecidos são implacáveis, querem leituras,
orelhas, apresentações.
Felizmente,
a Marta, minha esposa, nos últimos tempos, tem assumido o papel de
cão de guarda. Sem a sua proteção, eu não conseguiria escrever
nada.
Isso
me fez pensar no esquecido papel das mulheres de escritores. Sem
elas, muitas obras clássicas da literatura mundial não teriam sido
escritas.
Sem
Mafalda, Erico Verissimo, certamente, teria produzido uma
bibliografia minguada.
Sem
Lúcia, Luis Fernando Verissimo passaria o dia inteiro atendendo
telefonemas.
Sem
Valesca, Assis Brasil estaria um quarto de léguas distante do primor
de suas obras.
E
quando a situação se inverte e os artistas da palavra são
mulheres?
Seus
maridos atuam, também, como anteparos? E os filhos, deixam as mães
em paz para que possam escrever?
No
concurso literário da vida, nascer homem já é mais que meio
caminho andado.
Charles
Kiefer, in Para ser escritor
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