segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Sobre as mulheres de escritores

Para escrever, preciso isolar-me, recolher-me, concentrar-me somente no que estou escrevendo. Ou faço assim, ou a inspiração não vem. Aliás, sempre que ela me visita, encontra-me trabalhando.
Tenho as aulas, as viagens, as palestras, as feiras de livros. E não adianta. Até consigo escrever um conto ou outro em fins de semana, mas para escrever novelas e romances eu preciso de tempo ocioso, preciso não fazer nada, vagabundear, alterar os horários de dormir e levantar, almoçar e jantar.
Preciso, enfim, do que chamo de caos criativo.
Mas os conhecidos e os desconhecidos são implacáveis, querem leituras, orelhas, apresentações.
Felizmente, a Marta, minha esposa, nos últimos tempos, tem assumido o papel de cão de guarda. Sem a sua proteção, eu não conseguiria escrever nada.
Isso me fez pensar no esquecido papel das mulheres de escritores. Sem elas, muitas obras clássicas da literatura mundial não teriam sido escritas.
Sem Mafalda, Erico Verissimo, certamente, teria produzido uma bibliografia minguada.
Sem Lúcia, Luis Fernando Verissimo passaria o dia inteiro atendendo telefonemas.
Sem Valesca, Assis Brasil estaria um quarto de léguas distante do primor de suas obras.
E quando a situação se inverte e os artistas da palavra são mulheres?
Seus maridos atuam, também, como anteparos? E os filhos, deixam as mães em paz para que possam escrever?
No concurso literário da vida, nascer homem já é mais que meio caminho andado.
Charles Kiefer, in Para ser escritor

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