domingo, 21 de agosto de 2016

A genial máquina de fazer doido (precursora)

 

No dia 10 de abril de 1500, enquanto o mundo lia avidamente as manchetes de jornais cheias de notícia sobre a Descoberta do Brasil (“Brazil Descobierto!”, dizia o Castela y Granada, "Sacaran el lençol a Brazil”, dizia o Pasquim de Sevilha,”És el paiz del futuro!” previa o Porto de Lisboa), um jovem - Ortega y Gazeta - estava mergulhando em surpreendente pesquisa que, dias depois, apresentaria à Real Academia y Hostal Scientífico de Santiago de Compostela Conejo.
Recebido pela mais alta hierarquia da Academia - o jovem pertencia a uma linhagem de maior prestígio da Espanha de então e muitos fofocavam mesmo que era filho espúrio de Miguel de Cervantes, que nasceria 47 anos depois -, Ortega explicou com detalhes o funcionamento e a utilidade de sua invenção, destinada a abalar definitivamente as comunicações do mundo.
Sem mais nada a objetar, alguns sábios, engolindo a baba elástica e bovina da inveja, perguntaram ao jovem: “E como se chama sua invenção, Don Ortega Cimientas Jazidas y Combinaciones?”
Ortega respondeu sem pestanejar: “Televisão, naturalmente.”
A salva de palmas dos puxa-sacos ecoou, mas foi rapidamente interrompida quando um sábio rival se aproximou do aparelho, abriu-lhe a enorme porta e afirmou com segurança: “O caro colega é um grande talento mas vai me perdoar; o que acabou de inventar é o guarda-roupa.”
Millôr Fernandes

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