No
dia 10 de abril de 1500, enquanto o mundo lia avidamente as manchetes
de jornais cheias de notícia sobre a Descoberta do Brasil (“Brazil
Descobierto!”, dizia o Castela y Granada, "Sacaran el lençol a
Brazil”, dizia o Pasquim de Sevilha,”És el paiz del futuro!”
previa o Porto de Lisboa), um jovem - Ortega y Gazeta - estava
mergulhando em surpreendente pesquisa que, dias depois, apresentaria
à Real Academia y Hostal Scientífico de Santiago de Compostela
Conejo.
Recebido
pela mais alta hierarquia da Academia - o jovem pertencia a uma
linhagem de maior prestígio da Espanha de então e muitos fofocavam
mesmo que era filho espúrio de Miguel de Cervantes, que nasceria 47
anos depois -, Ortega explicou com detalhes o funcionamento e a
utilidade de sua invenção, destinada a abalar definitivamente as
comunicações do mundo.
Sem
mais nada a objetar, alguns sábios, engolindo a baba elástica e
bovina da inveja, perguntaram ao jovem: “E como se chama sua
invenção, Don Ortega Cimientas Jazidas y Combinaciones?”
Ortega
respondeu sem pestanejar: “Televisão, naturalmente.”
A
salva de palmas dos puxa-sacos ecoou, mas foi rapidamente
interrompida quando um sábio rival se aproximou do aparelho,
abriu-lhe a enorme porta e afirmou com segurança: “O caro colega é
um grande talento mas vai me perdoar; o que acabou de inventar é o
guarda-roupa.”
Millôr
Fernandes
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