domingo, 17 de julho de 2016

O conto é um meteorito

Entre as muitas teses que se tem a respeito do conto e de seu processo de composição, há uma que em mim se consolida cada vez mais.
Um conto deve ser pensado longamente, mas escrito rapidamente.
Não importa o tempo que se leve depois, a retocá-lo, a reescrevê-lo.
Durante 32 anos (isso mesmo, 32 anos) acalentei a ideia de um conto. E, depois de três décadas a observá-lo, a pensá-lo, arranquei-o de mim. Chama-se A arara vermelha.
Escrever contos é como pintar paredes. Se interrompemos a pintura, para continuá-la num outro dia, ao retomá-la, restarão as marcas das junções. A tinta seca e a tinta molhada não se acertam.
Um conto é um meteorito. É preciso que viaje longamente pelo espaço do imaginário, para incendiar-se, subitamente, ao entrar em contato com a nossa atmosfera.
E essa sensação é impagável: fazer um bom conto, e que agrade, em primeiro lugar, ao exigente leitor que temos dentro de nós. Não venderá nada, não será lido por ninguém, mas não importa.
Toda beleza é inútil. E é bom que seja. É a nossa última trincheira, nesse mundo em que tudo vira mercadoria.
Charles Kiefer, in Para ser escritor

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