Entre
as muitas teses que se tem a respeito do conto e de seu processo de
composição, há uma que em mim se consolida cada vez mais.
Um
conto deve ser pensado longamente, mas escrito rapidamente.
Não
importa o tempo que se leve depois, a retocá-lo, a reescrevê-lo.
Durante
32 anos (isso mesmo, 32 anos) acalentei a ideia de um conto. E,
depois de três décadas a observá-lo, a pensá-lo, arranquei-o de
mim. Chama-se A arara vermelha.
Escrever
contos é como pintar paredes. Se interrompemos a pintura, para
continuá-la num outro dia, ao retomá-la, restarão as marcas das
junções. A tinta seca e a tinta molhada não se acertam.
Um
conto é um meteorito. É preciso que viaje longamente pelo espaço
do imaginário, para incendiar-se, subitamente, ao entrar em contato
com a nossa atmosfera.
E
essa sensação é impagável: fazer um bom conto, e que agrade, em
primeiro lugar, ao exigente leitor que temos dentro de nós. Não
venderá nada, não será lido por ninguém, mas não importa.
Toda
beleza é inútil. E é bom que seja. É a nossa última trincheira,
nesse mundo em que tudo vira mercadoria.
Charles
Kiefer, in Para ser escritor
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