terça-feira, 5 de julho de 2016

Manter uma conversa inteligente e interessante

- Que pena - diz ele devagar, suavemente, balançando a cabeça e sem fitar o interlocutor nos olhos (nunca encara as pessoas) -, que grande pena, meu respeitável Mikhail Avieriánitch, que na nossa cidade não haja absolutamente pessoas que saibam e gostem de manter uma conversa inteligente e interessante. Isso constitui para nós uma privação enorme. Mesmo os intelectuais de ofício não se elevam acima da vulgaridade; o grau da sua cultura, asseguro-lhe, não está de nenhum modo acima da classe inferior.
- Absolutamente certo.
- Você mesmo sabe – prossegue o medido, suave e pausadamente – que neste mundo tudo é sem importância e desinteressante, a não ser as manifestações espirituais superiores da razão humana. A inteligência traça uma fronteira nítida entre o animal e o homem, lembra a natureza divina do segundo e, de certa maneira, substitui para ele a imortalidade, que não existe. Partindo-se daí, a razão constitui a única fonte possível do prazer. Mas nós não vemos, não sentimos junto a nós a razão: quer dizer que estamos privados do prazer. É verdade, nós temos livros, mas isso não é de modo algum o mesmo que uma conversa viva, que o trato humano. Se me permite fazer uma comparação um tanto infeliz, os livros são as notas de música, e a conversa o canto.”
Anton Tchekhov, in Enfermaria nº 06

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