“- Que
pena - diz ele devagar, suavemente, balançando a cabeça e sem fitar
o interlocutor nos olhos (nunca encara as pessoas) -, que grande
pena, meu respeitável Mikhail Avieriánitch, que na nossa cidade não
haja absolutamente pessoas que saibam e gostem de manter uma conversa
inteligente e interessante. Isso constitui para nós uma privação
enorme. Mesmo os intelectuais de ofício não se elevam acima da
vulgaridade; o grau da sua cultura, asseguro-lhe, não está de
nenhum modo acima da classe inferior.
-
Absolutamente certo.
-
Você mesmo sabe – prossegue o medido, suave e pausadamente – que
neste mundo tudo é sem importância e desinteressante, a não ser as
manifestações espirituais superiores da razão humana. A
inteligência traça uma fronteira nítida entre o animal e o homem,
lembra a natureza divina do segundo e, de certa maneira, substitui
para ele a imortalidade, que não existe. Partindo-se daí, a razão
constitui a única fonte possível do prazer. Mas nós não vemos,
não sentimos junto a nós a razão: quer dizer que estamos privados
do prazer. É verdade, nós temos livros, mas isso não é de modo
algum o mesmo que uma conversa viva, que o trato humano. Se me
permite fazer uma comparação um tanto infeliz, os livros são as
notas de música, e a conversa o canto.”
Anton
Tchekhov, in
Enfermaria
nº 06
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