segunda-feira, 4 de julho de 2016

Ensaios morais de Tolstói

QUINTA-FEIRA 19 – Li os ensaios morais de Tolstói e me contorci e lutei com a conclusão de que a moralidade, o conceito moral, é uma forma de melancolia. Não para mim, não para mim! O comportamento moral, sim, mas sem qualquer conceito. Há uma senilidade lúgubre na moralidade que é destituída de vida real. Vamos apenas dizer – a essência das coisas é boa, sua forma também é boa até que ela é exaurida, e assim, então, sendo má, inútil, gasta, a substância se vai e deixa ali a forma vazia. Tudo muito geral. Concluí que a sabedoria de Dostoiévski é a mais alta sabedoria do mundo, porque não é apenas a sabedoria de Cristo, mas um Cristo Karamazov de alegria e luxúria. Vamos ter uma moral que não exclua a vida simples – amar! Pobre Tolstói, angustiado por ter iniciado rico e libertino – mas quando um conde se retira para junto dos camponeses, isso é de alguma importância para o mundo (trocadilho intencional). Tolstói devia ser acanhado em relação à sua importância moral aos olhos do mundo. Mas Dostoiévski, Shakespeare – a moralidade deles cresce na terra, está ali escondida e se reproduzindo. Dostoiévski nunca precisou se retirar para a moralidade, ele sempre foi a moralidade, e tudo o mais também.
Jack Kerouac, in Diários de Jack Kerouac (1947-1954)

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