Entro
no bradesco, retiro a senha, sento numa cadeira e espero chegar a
minha vez. Abro um livro de contos do Rubem Fonseca e saco que duas
garotas estão me olhando. “não é possível. será que fiquei
bonito depois de velho? que droga essa garotada tá usando?” penso
na minha, viro a página do conto “O cobrador” e converso
baixinho comigo mesmo “esse velho tem uma usina de ódio dentro de
si. Rubem Fonseca é um dos velhos que mais soube trabalhar a raiva
na narrativa ficcional brasileira” aí o cochicho das duas aumenta.
“vai lá com ele. a professora não vai acreditar!” olho para os
lados achando que tem algum astro teen perto de mim, mas só
vislumbro velhos tristes e aposentados implorando por empréstimos.
“vou lá, peraí. me dá uma caneta e um papel” diz a mais afoita
com os olhos castanhos e cabelo parecido com a da falecida cantora de
jazz Amy Winehouse. “oi, você poderia me dar um autógrafo? minha
professora adora seus livros. Minha mãe também gosta.” “que
bom! sou mais lido por mulheres mais jovens. Elas tem mais
sensibilidade que homens. vou fazer o seguinte: vou dedicar um poema
pra sua professora, tudo bem?” escrevo um poeminha bonitinho e
assino embaixo “com carinho… diego moraes” entrego o papel, a
minha senha apita no guichê e escuto a outra dando um puxão de
orelha na sósia da Amy: “Falei que não era ele! falei que o
Milton Hatoum é branco e muito mais velho”. O gerente me dá bom
dia e sinto um castelo de ego desmoronando dentro de mim.
Diego
Moraes, in ursocongelado.tumblr.com
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