Pensamentos
vagabundos são pensamentos que a gente pensa sem querer pensar,
diferentes dos pensamentos que a gente pensa por precisar deles. Os
pensamentos que a gente pensa por precisar deles andam sempre um
atrás do outro como soldados em ordem unida. São ferramentas. Eles
vêm quando a gente os chama. Os pensamentos vagabundos são como as
nuvens que o vento leva, uma hora se parecem com um cachimbo, o
cachimbo vira um navio, o navio se transforma em elefante, o elefante
vira flor... Coisa de poetas desocupados... São brinquedos. Eles vêm
sem serem chamados. Guimarães Rosa relata que foi assim que lhe
chegou o conto “A terceira margem do rio”. Ele ia andando
distraído pela rua quando, repentinamente, o conto lhe veio pronto,
como a bola chega às mãos do goleiro. Ele foi para casa e o
escreveu. Quando alguém lê o que escrevemos e gosta é porque
entrou no brinquedo…
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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