Como
investigadores do conhecimento, não sejamos ingratos com os que
mudaram por completo os pontos de vista do espírito humano; na
aparência foi uma revolução inútil, sacrílega; mas já de si o
querer
ver
de modo diverso dos outros, não é pouca disciplina e preparação
do entendimento para a sua futura “objetividade”, entendendo por
esta palavra não a “contemplação desinteressada”, que é um
absurdo, senão a faculdade de dominar o pró e o contra, servindo-se
de um e de outro para a interpretação dos fenômenos
e das paixões. Acautelemo-nos pois, oh senhores filósofos!
Desta
confabulação das ideias antigas acerca de um “assunto do
conhecimento
puro, sem vontade, sem dor, sem tempo”, defendamo-nos das moções
contraditórias “razão pura”, “espiritualidade absoluta”,
“conhecimento subsistente” que seria um ver
subsistente
em si próprio e sem órgão visual, ou um olho sem direção, sem
faculdades ativas e interpretativas? Pois o mesmo sucede com o
conhecimento: uma vista, e se é dirigida pela vontade, veremos
melhor, teremos mais olhos, será mais completa a nossa
“objetividade”. Mas eliminar a vontade, suprimir inteiramente as
paixões - supondo que isso fosse possível – seria castrar
a
inteligência.
Friedrich
Nietzsche,
in
Genealogia da Moral
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