quarta-feira, 4 de maio de 2016

Clichês moldados

Voltando agora de uma noitada. Passei a mão num livro do Roberto Piva mais cedo e achei 130 reais na página do poema que ele fala dos amigos pederastas e barbudos. Aí colei num bar metade de concreto/madeira caindo aos pedaços que também funciona como uma espécie de boca de fumo e borracharia. Fiquei na minha fungando o amargo das desilusões. Tenho sonhando com a minha ex-mulher. A mulher que quase casei e tive filhos. A mulher que realmente abalou meu coração e me fez chorar por longos meses. A mulher que me fez pensar na possibilidade de escrever um poema épico num domingo e cometer suicídio. A mulher que deixou Manaus para viver no interior de São Paulo. Geralmente quando sonho com alguém seguidamente é pq a figura está precisando de ajuda. Está doente ou morrerá em breve. Não que eu seja um instrumento de Deus, profeta ou caralho a quatro. Apenas acontece de eu ter pesadelos com a figura e depois ficar sabendo que ela fora atropelada por um caminhão ou levou tiros num assalto. O lance é que lá estava eu no bar escutando Lou Reed. Dei 10 reais para o dono de o recinto enfiar o meu pendrive no computador e por alguns instantes fechei os olhos e tentei imaginar minha ex numa situação boa. Imaginei uma praia e ela correndo nua com um sorriso estampado na cara. Depois a imaginei rolando num jardim e também cantando sua música predileta no banheiro. São imagens clichês moldadas por filmes americanos. O fato é que não queria incomodar Deus fazendo uma oração ali no bar frequentado por marginais da pior espécie. Pago de ateu, mas lá no fundo, lá no fundo mesmo acredito em Deus. Tenho uma relação mal resolvida com Jesus. Uma mágoa que não cabe falar agora. Talvez num outro conto cheio de verdades. Aí começou a tocar a minha música predileta do Lou Reed. “Perfect Day” e então acendi um cigarro para fumar lá fora olhando as estrelas. Bateu uma puta saudade dela e quando a música terminou uma parte do teto do segundo andar caiu junto com um cara de cueca que começou a rir sem parar e pediu uma cerveja. Ele bebeu um gole e perguntou: “diz aí, grandão. A vida é ou não é engraçada?” juro que tentei concordar com ele, mas paguei a conta e dei as costas caminhando pra casa rindo forçadamente feito psicopata. Às vezes a gente se engana. Mente para si mesmo. A gente finge. Às vezes a gente interpreta como se estivesse num filme com final feliz.
Diego Moraes, in ursocongelado.tumblr.com

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