domingo, 24 de abril de 2016

Para o amor nada é impossível

- Preciso encontrar alguém, Urso.
- Você já se encontrou, não? cê não acha sensacional ter a nossa própria solidão como companhia todos os dias?
- A solidão é uma pessoa?
- A minha solidão é a melhor companhia.
- Você arrumou alguém, Urso?
- Arrumei. Fiquei mais de dez anos só enfiando em buracos e voltando bêbado sozinho pra casa.
- Como é arrumar alguém? Como é gostar de alguém?
- Gostar de alguém é como escrever um poema bonito e sentir medo de perder. Então você coloca no bolso e passa a mão toda hora pra ver se ele ainda está lá segurando todo o sentimento.
- Bonito, cara. Muito gente te vê como porralouca, mas você é um escritor foda. Um baita cara com sensibilidade. Um dos melhores. Sujeito lírico mesmo.
- Sei…
- Preciso arrumar alguém.
- Já que você não se conforma com a própria solidão, arruma alguém que finja gostar dos teus poemas e te abrace todas as noites. Arruma alguém que minta bem. O amor também é isso: fingimento. Ele é mentiroso como um lobo em pele de cordeiro.
- Como assim?
- Você sabe que somos amigos, mas não curto teus poemas. São fracos demais. Não tem estilo. É uma vibe descarada de Leminski.
- Tá bom. Você já teve alguém que fingia gostar dos teus escritos?
- Já, a minha primeira mulher dizia que eu era mais foda que Dostoiévski.
- Ela te amava?
- Por um tempo acreditei que sim. Por onde ela anda?
- Casou com o cara que considerava meu melhor amigo.
- Foda.
- É como te falei. O amor mente. Daqui a pouco você arruma uma que vai te achar genial por um tempo.
- Mas você diz que meus poemas são péssimos.
- Para o amor nada é impossível.
Diego Moraes, in ursocongelado.tumblr.com

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