quinta-feira, 14 de abril de 2016

A chover

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De noite, tornou a chover. Ficou ouvindo o borbotar da água durante muito tempo; deve ter dormido em seguida, porque quando despertou só se ouvia um chuviscar calado. Os vidros das janelas estavam opacos, e do outro lado as gotas deslizavam em fios grossos como lágrimas. “Olhava as gotas caindo, iluminadas pelos relâmpagos, e cada vez que respirava, suspirava, e cada vez que pensava, pensava em você, Susana.”
A chuva se transformava em brisa. Ouviu: “O perdão dos pecados e a ressurreição da carne. Amém.” Isso era aqui dentro, onde umas mulheres rezavam o final do rosário. Levantavam-se; prendiam os pássaros; trancavam a porta; apagavam a luz. Só restava a luz da noite, o ciciar da chuva como um murmúrio de grilos...
Por que você não foi rezar o rosário? Estamos na novena do seu avô.
Lá estava sua mãe no umbral da porta, com uma vela na mão. Sua sombra escorrida rumo ao teto, longa, estendida. E as vigas do teto a devolviam aos pedaços, despedaçada.
Estou triste — disse.
Então ela se virou. Apagou a chama da vela. Fechou a porta e abriu seus soluços, que continuaram sendo ouvidos confundidos com a chuva.
O relógio da igreja badalou as horas, uma atrás da outra, uma atrás da outra, como se o tempo tivesse encolhido.
Juan Rulfo, in Pedro Páramo

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