Era
um professor duro, exigente — e implacável. As provas eram feitas
sem aviso prévio. Todos os trabalhos valiam nota e eram corrigidos
segundo os critérios mais rigorosos. Resultado: no fim do ano quase
todos os alunos estavam à beira da reprovação. As notas — que
ele anotava cuidadosamente no livro de chamada — eram as mais
baixas possíveis.
O
que fazer? Reuniam-se todos os dias no bar em frente ao colégio para
discutir a situação, mas nada lhes ocorria. Até que um deles teve
uma ideia brilhante.
O
livro de chamada. A solução estava ali: tinham de se apossar do
livro de chamada e mudar as notas. Um 0 poderia ser
transformado em 8. Um 1 poderia virar 7 (ou 10, dependendo do grau de
ambição).
O
problema era pegar o livro, que o professor não largava nunca —
nem mesmo para ir ao banheiro. Aparentemente, só uma catástrofe
poderia separá-los.
Recorreram,
pois, à catástrofe. Um dos alunos telefonou do orelhão em frente
ao colégio, avisando que havia um princípio de incêndio na casa do
professor. Avisado, o pobre homem saiu correndo da sala de aula —
deixando sobre a mesa o famigerado livro de presenças.
Acreditareis
se eu disser que ninguém tocou no livro?
Ninguém
tocou no livro. Os rapazes se olhavam, mas nenhum deles tomou a
iniciativa de mudar as notas. Às vezes a consciência pesa mais que
a ameaça da reprovação.
Moacyr
Scliar,
in
Um
país chamado infância
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