segunda-feira, 28 de março de 2016

O Amor de Tumitinha

Você também deve ter alguma palavra que aprendeu na infância, que tinha um certo significado e aquilo ficou impregnado na sua cabeça para sempre. Só anos depois veio a descobrir que a palavra não era bem aquela e nem significava aquilo. E, assim, existem várias palavras. Por exemplo:

Pé de Cachimbo - A frase “hoje é domingo, pé de cachimbo”. Na verdade, não é pé de cachimbo, mas sim pede (do verbo pedir) cachimbo. Ou seja, pede paz, tranquilidade, moleza.. E a gente sempre a imaginar um pé de cachimbo no quintal, todo florido, com cachimbos pendurados, soltando fumaça.

Nabucodonosor - Eu sempre achei que o babilônico Nabuco fosse um país chamado Nosor. Era Nabuco do Nosor. Achava que devia ser na África, perto do Quênia, por ali. Hoje já sei que Nabuco é um bar na Villaboim.

Álibi - Quando eu era garoto, tarado por filmes de bandido e mocinho, sempre achei que Álibi era o amigo do Mocinho. Claro, o Mocinho sempre tinha um Álibi e o bandido não. O Álibi, nos filmes geralmente, era um velhinho. Mas resolvia.

Atalibálago - Esta é do escritor Fernando Moraes. Quando era garoto, em Minas, viu um nome escrito com cal numa enorme parede de pedra: Atalibálogo. Adorou o nome, chegou até a comentar com o pai e nunca se esqueceu da esquisitice. Era pequeno, achava quer era um palavrão. Xingava as pessoas: seu atalibálago! Filho de uma atalibálaga! Só anos depois mais tarde, veio a descobrir que, na verdade, era um candidato a deputado que um dia acabou se elegendo e se chamava, na verdade, Ataliba Lago.

Margarida - Esta está até em uma peça. A personagem pensava: Do que a terra... Margarida...

Sulfechando - Meu primo, um dia perguntou ao pai dele o que significava o verdo Sulfechar. O pai alegou que esse verbo não existia e teve que provar com dicionário e tudo. Como o garoto insistia em conjugar o verbo, o pai perguntou onde ele tinha ouvido tal disparate. E ele disse e cantorolou aquela música do Tom Jobim: são as águas de mar sulfechando o verão...

Ventre Jesus - Aprendi a rezar Ave-Maria ainda analfabeto, com três ou quatro anos. E sempre achei que Ventre era o primeiro nome do Homem, quando dizia do nosso Ventre Jesus. Aliás, achava um belo nome para Deus: Ventre Jesus!

Tumitinha - Todo mundo conhece a música Ciranda-Cirandinha. A Adriana, uma amiga, me confessou que durante anos e anos, entendia um verso completamente diferente. Quando a letra fala o amor que tu me tinha era pouco e se acabou, ela achava que era o amor de Tumitinha era pouco e se acabou. Tumitinha era um menino, coitado. Ficava com dó do Tumitinha toda cez que cantava a música, porque o amor dele tinha se acabado. E mais, achava que Tumitinha era um japonesinho. Devia se chamar, na verdade, Tumita. Quando ela descobriu que o Tumitinha não existia, sofreu muito. Faz análise até hoje.
Mário Prata, in crônica para o jornal “O Estado de São Paulo”

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