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Um
dia, conversando com a Anne-Marie Chartier (pesquisadora francesa em educação, casada com o historiador Roger Chartier), ela falou mais ou menos assim: “Vou à locadora porque não tive
tempo de ver o filme. Aí, levo para casa o filme que quero ver. Aí,
tenho que ter um aparelho para enfiar aquele filme, mas antes tenho
que ver se ele está bem conectado na televisão. Depois, preciso ver
se o controle remoto tem pilhas para poder ligar e assistir ao filme.
Quando faço tudo isso e não consigo, preciso telefonar para o
técnico que me diz que daqui a três dias vem para ver qual é o
problema. E acho que estou maravilhosamente bem servida com a
tecnologia. Não estou. O livro é uma coisa tão fascinante. Não
tem pilha, não tem fio, não tem técnico, não tem nada”. Ela
falou comigo, o livro ainda será inventado de tão maravilhoso que
ele é. Ainda será inventado porque é a coisa mais prática que
tenho. Essa tecnologia toda precisa de pilha de eletricidade. O livro
não tem nada disso, põe debaixo do braço e leva para onde quiser.
Não tem que anotar em que parte parou, basta dobrar o cantinho e já
sabe. É bonito no livro quando você risca o que lê. Acho bonito
quando pego livros que li e vejo onde risquei e penso “já não sei
mais por que marquei isso”. Que coisa boa! Naquele dia, aquilo teve
uma função. Hoje, já não sei mais qual é. Então, respondo com a
fala da Anne-Marie Chartier: “O livro ainda vai ser inventado. É
tão bom que ainda vai chegar o tempo dele”.
Bartolomeu
Campos de Queirós,
in Palestra no Teatro do Paiol, Curitiba – PR
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