Observei
o cuidado com que a enfermeira preparava a injeção de Citoneurin
que iria me aplicar, dolorida como brasa. O algodão embebido em
álcool desinfetava minha pele para que não houvesse perigo de
infecção. Esses cuidados são norma médica obrigatória. Enquanto
a brasa entrava no meu músculo eu pensava se os médicos ou
enfermeiros, nas penitenciárias, encarregados de aplicar a injeção
letal nos condenados à morte – eu pensava se eles desinfetavam o
local onde a agulha ia entrar na pele do condenado... O que é que
Kant teria a dizer? Ele diria que a pele do condenado deveria ser
desinfetada para que ele não morresse de infecção…
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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