Quando
lorde Henry penetrou no quarto, encontrou seu tio assentado, metido
num grosso hábito de caçada, fumando um charuto e rosnando sobre um
número do Times.
— Muito
bem, Harry! — disse o velho gentleman
— que traz tão cedo? Pensei que vocês, dândis, não se
levantassem, antes de duas horas e não se deixassem ver antes das
cinco.
— Pura
afeição familiar, eu lhe asseguro, tio Jorge, e depois porque tenho
necessidade de pedir-lhe alguma coisa.
—
Dinheiro,
suponho — disse lorde Fermor, fazendo uma careta. — Enfim,
sente-se e diga-me do que se trata. Os moços, hoje, imaginam que
dinheiro é tudo.
— Sim
— murmurou lorde Henry, abotoando o capote —; e quando se tornam
velhos ficam com a certeza; mas, não preciso de dinheiro. Só os que
pagam as suas dívidas precisam disso, tio Jorge, e eu nunca pago as
minhas. O crédito é o capital de um moço e vive-se de um modo
admirável. Demais, estou sempre em negociações com os fornecedores
de Dartmoor e eles nunca me inquietam. Preciso de umas informações,
não úteis, seguramente, mas inúteis.
— Bem!
Posso dizer-te tudo quanto contém um Livro
Azul inglês, embora
seus autores, hoje, só escrevam asneiras. Quando fui diplomata, as
coisas corriam melhor. Ouvi, porém, dizer que hoje eles são
escolhidos depois de exames. Que queres? Os exames, meu senhor, são
uma pura pilhéria. Se o homem é um gentleman,
sabe bastante; se não é, tudo o que aprender será em seu prejuízo!
Oscar
Wilde, in O retrato de Dorian Gray
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