“Príncipes,
Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos
Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as
violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as
pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os
cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes.
Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o
vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores,
supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as
calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços
da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis
Divinas, vedes o abuso dos
costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as
simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes
a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade?
Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o
não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República,
da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as
obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que
carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do
governo, vedes as injustiças,
vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as
dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as
vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e
gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não
remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos.”
Padre
Antônio
Vieira, in Sermões
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