“Agora, por
exemplo, levas contigo, há já quase um ano, um instinto mais forte
do que todos os demais e que se rotula como ‘proibido’. No
entanto, os gregos e muitos outros povos fizeram desse mesmo instinto
uma divindade à qual rendiam culto em grandes festas.
O 'proibido' não é, pois, eterno, e sim sujeito a mudanças. Da
mesma forma, hoje qualquer um pode deitar-se licitamente com uma
mulher, desde que a tenha levado antes à presença de um sacerdote e
se tenha casado com ela. Mas há outros povos entre os quais se
procede diferentemente. Por isso, cada um de nós tem que encontrar
por si mesmo o ‘permitido’ e o ‘proibido’ relativamente à
sua própria pessoa… o que é proibido a cada um de nós. Podemos
deixar de fazer tudo o que for proibido e sermos, a despeito disso,
um ressumado patife. E vice-versa. Em suma, tudo não passa de uma
questão de comodidade! Aquele que acha mais cômodo não ter que
pensar por si mesmo e ser seu próprio juiz acaba por submeter-se às
proibições vigentes. Acha isso mais simples. Mas há outros que
sentem em si mesmos sua própria lei, e consideram proibidas certas
coisas que os homens de bem perpetram a todo instante e permitem
outras sobre as quais recai uma geral interdição. Cada qual tem que
responder por si mesmo.”
Hermann Hesse, in Demian
Nenhum comentário:
Postar um comentário