quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Proibido

Agora, por exemplo, levas contigo, há já quase um ano, um instinto mais forte do que todos os demais e que se rotula como ‘proibido’. No entanto, os gregos e muitos outros povos fizeram desse mesmo instinto uma divindade à qual rendiam culto em grandes festas. O 'proibido' não é, pois, eterno, e sim sujeito a mudanças. Da mesma forma, hoje qualquer um pode deitar-se licitamente com uma mulher, desde que a tenha levado antes à presença de um sacerdote e se tenha casado com ela. Mas há outros povos entre os quais se procede diferentemente. Por isso, cada um de nós tem que encontrar por si mesmo o ‘permitido’ e o ‘proibido’ relativamente à sua própria pessoa… o que é proibido a cada um de nós. Podemos deixar de fazer tudo o que for proibido e sermos, a despeito disso, um ressumado patife. E vice-versa. Em suma, tudo não passa de uma questão de comodidade! Aquele que acha mais cômodo não ter que pensar por si mesmo e ser seu próprio juiz acaba por submeter-se às proibições vigentes. Acha isso mais simples. Mas há outros que sentem em si mesmos sua própria lei, e consideram proibidas certas coisas que os homens de bem perpetram a todo instante e permitem outras sobre as quais recai uma geral interdição. Cada qual tem que responder por si mesmo.”
Hermann Hesse, in Demian

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