Nada
me causou mais estranhamento, na infância ou depois, do que visitar
as casas dos meus vizinhos — primeiro e definitivo contato com a
alteridade. As plantas dos sobrados eram idênticas, mas a ocupação
variava: na casa do Henrique, por exemplo, a televisão estava onde
deveria ficar a mesa de jantar, a mesa de jantar onde deveria estar o
sofá, o quarto dele era onde, lá em casa, ficava o quarto dos meus
pais e vice-versa. Sem falar na casa do Rodrigo, onde os pratos eram
azuis. Como poderiam não saber que pratos são brancos?
Tinha
pena dos outros, hereges, vivendo errado.
Dentro,
nossa casa era toda branca, mas por fora era de uma tonalidade meio
marrom, meio rosa. Um dia, perguntei à minha mãe que cor era
aquela.
“Terracota.”
Não
gostei. Senti que nosso lar era de alguma forma conspurcado por uma
cor com terra no nome.
Antonio
Prata, in Nu, de botas
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