“Amo-a
Harry. Ela é tudo para mim, na vida. Noite após noite, vou vê-la
representar. Uma noite ela é Rosalinda, outra é Imogênia. Vi-a
morrer na escuridão de uma tumba italiana, sugando o veneno dos
lábios do seu amado. Segui-a quando errava pelos bosques de Arden,
disfarçada de belo rapaz de calças, gibão e gracioso gorro. Vi-a
louca na presença de um rei perverso, para quem levava ramos de
arruda e a quem dava a provar ervas amargas. Era inocente e as negras
mão do ciúme comprimiam-lhe a garganta semelhante a um caniço.
Vi-a em toda as épocas e em todos os trajes. As mulheres vulgares
nunca excitam a nossa imaginação. Estão limitadas ao seu século.
Não há magia que possa transfigurá-las. Pode-se conhecer a sua
mente como se conhecem os seus chapéus. Podemos encontrá-las
sempre. Não há mistério em nenhuma delas. De manhã, passeiam no
seu carro pelo parque; de tarde, tagarelam tomando chá. Têm
sorrisos estereotipados e as atitudes estudadas. São completamente
transparentes. Mas uma atriz, Harry! Por que não me disse que o
único ser digno de amor é uma atriz?”
Oscar Wilde, in O retrato de Dorian Gray
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