“você
precisa de um carro” ela disse. “você precisa de um tênis
decente. Cortar o cabelo. Aparar essa barba horrível e correr.
Correr, correr, o tempo passa, sabia?” e eu continuava olhando o
gramado. A bola de futebol murcha ao lado do cachorro com sarna e o
caminho do formigueiro levando pedaços de folhas. “você é um
escritor incrível. Tens noção disso?” o pai dela abriu a porta e
perguntou algo como “quer as linguiças de frango com pimenta?
gosta de churrasco com molho de pimenta?” e as crianças pulavam
com força na piscina. A água batia nos nossos pés junto com o sol
que nos fazia lagrimar. “sei do seu romance. Tá bonito. Não
precisa dedicar pra mim. Agora estou casada. Não quero que o Afrânio
tenha ciúmes.” E o cheiro do churrasco enjoou meu estômago e
levantei como um homem que iria morrer na guerra: “Tá bom, Vânia.
Cuida-te.” E dei as costas como um filho que beija o rosto da mãe
pela última vez antes de abraçar o mundo. E comecei a correr. A
correr feito o retardado do Tom Hanks em Forrest
Gump
e senti pela primeira vez que o amor doía feito uma ferida cheia de
pus e que só a literatura poderia desinflamar toda a saudade de
Vânia. Até hoje passo mal com domingos e cheiro de carnes
queimando. Ontem minha colega de trabalho me convidou para jantar um
cordeiro em sua casa, mas fui cínico feito Judas: “desculpa, mas
virei vegetariano”.
Diego
Moraes, in
ursocongelado.tumblr.com
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