“No fundo da
alma, todavia, esperava um acontecimento. Como os marinheiros
angustiados, lançava sobre a solidão de sua vida olhos
desesperados, procurando ao longe alguma vela branca
nas brumas do horizonte. Não sabia qual seria aquele acaso, o vento
que o empurraria até ela, para que margens ele a levaria, se seria
uma chalupa ou um navio de três pontes, carregado de angústias ou
cheio de felicidade até as escotilhas. Mas, cada manhã, ao acordar,
esperava-o para aquele mesmo dia e escutava todos os ruídos,
levantava-se sobressaltada, espantava-se por ele não chegar; depois,
ao anoitecer, cada vez mais triste, desejava já estar no dia
seguinte”.
Gustave Flaubert, in Madame Bovary
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