domingo, 24 de janeiro de 2016

Esperando um acontecimento

No fundo da alma, todavia, esperava um acontecimento. Como os marinheiros angustiados, lançava sobre a solidão de sua vida olhos desesperados, procurando ao longe alguma vela branca nas brumas do horizonte. Não sabia qual seria aquele acaso, o vento que o empurraria até ela, para que margens ele a levaria, se seria uma chalupa ou um navio de três pontes, carregado de angústias ou cheio de felicidade até as escotilhas. Mas, cada manhã, ao acordar, esperava-o para aquele mesmo dia e escutava todos os ruídos, levantava-se sobressaltada, espantava-se por ele não chegar; depois, ao anoitecer, cada vez mais triste, desejava já estar no dia seguinte”.
Gustave Flaubert, in Madame Bovary

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