Escrevo-te
agora porque a Internet caiu mais cedo. Um temporal derrubou a cruz
da igreja e a correnteza da enchente fez com que uma criança sumisse
nos bueiros do bairro. Sinto sua falta. A saudade lateja mais que
minha dor de dente. Lembro-me daquela vez que você encostou a cabeça
no meu peito de metalúrgico grevista e começou a chorar mornamente
sem parar falando do irmão que morreu de AIDS e da mãe que
enlouqueceu de tanto tomar tranquilizantes. Escrevo-te agora porque
acabo de escrever um poema lindo do jeito que gostavas de ler sentada
no trono do banheiro. Lia alto que da cozinha escutava suas
gargalhadas de atriz de ópera. Escrevo-te agora porque todas as
cartas que escrevi voltaram (até o carteiro sente pena de mim).
Escrevo-te agora porque escrevi seu nome no meu último cigarro do
maço e fumei lentamente até a chuva passar.
Diego
Moraes, in Meu coração é um bar vazio tocando Belchior
Nenhum comentário:
Postar um comentário